domingo, 6 de novembro de 2011

O Velho Da Floresta E o Amor Platônico --------- Por A. Rodrigues

   Dedico-lhes estas minhas palavras,enquanto me delicio aos sabores fermentados da uva, vinho este que mesmo mais vagabundo, induziu-me a apelar ao inconsciente e a fluidez da inspiração,e dizer-lhes tais coisas e contar-lhes sobre isso.
   _Bom dia amigos:disse o homem da voz cansada, arrastada e sussurrante a natureza que o cercava, de modo tão obscuro, mais singelo.Este cujo estava em meio a uma clareira, cortando lenha, pois seriam aqueles dias frios,  ele caminhava pela floresta densa, com seu machado em mãos e ia em direção a sua casa, os lobos uivavam  de modo profano o isolamento daquele homem. De longe se ouvia o barulho da casa de máquinas,  o moinho incansável, mas mesmo assim velho e soltando pedaços persistia.
   Ao chegar em sua casa, humilde mais muito aconchegante, ateou fogo a lenha, e a deixou queimar, enquanto isso acabou deitando-se, aproveitando o frio que logo cedo fazia.
Eis que neste sono sonhos surgiram, sonhara ele que voltara a seu tempo de adolescência, pois já era velho. Neste sonho corria pela floresta, e ia de encontro a uma caverna, lá ele secretamente encontrava sua amada, amor este platônico. Eis que ele resolve contar a ela sobre sua paixão, mas infelizmente nunca fora correspondido, pois pouco tempo depois, a jovem morrera em sua casa queimada, por sacerdotes da aldeia próxima, que por inveja de tamanha beleza, descontentamento e descrença, a queimaram viva, acusando-a de bruxaria, pelo simples fato de ela não alimentar consigo o temor, muito menos a crença nas divindades de seu tempo, e para o clero da cidade, aquilo seria uma potencial ameaça, pois era pequeno o vilarejo.
   O homem enquanto dormia, algumas lembranças vinham em seu sonho.Eis que por um instante,  com um estalo uma brasa saltou da fogueira e caíra sobre a perna do velho dorminhoco, e eis que no ápice do  épico sonho, em que ele tinha de volta  a sua amada, o sonho se converte em pesadelo, vem a sua memória as chamas que envolviam a casa de sua amada.E com este estalo e esta brasa, ele acordara havia caído em sua perna, mas por sorte com o calor da brasa, acordou a tempo e conseguira apagar o fogo que ali se iniciava, bradou as paredes da casa: Ainda bem que vocês persistem, estes carniceiros inquisidores mataram minha amada,estes cães desgraçados a mataram por tamanha futilidade, pela qual facilmente pegaria meu machado e deceparia o crânio deles ao meio, mas não o faço, pois assim me rebaixaria ao nível destes monstros. Finalizou.
   Este homem sempre vivera frustrado com este amor incompleto, eis que desde aquele dia, ele decidiu não crer em mais em nada, prometeu-se a si mesmo que nunca mais se prostraria diante dos ditos santos que permitiram que tais ditos homens santos, fizessem tamanha barbárie.
    Pois este homem vivera um amor platônico proibido, pois em poucas semanas, iria ele em breve para o seminário,  seu sonho era ser padre.Espalhar boas lições e conceitos de amor ao próximo, mas ao fim se viu em tal situação, e a partir disto renegou seu sonho, pois o oprimido em breve se aliaria ao opressor,  e eis que desde então se fechara em sua humilde casinha, saia muito pouco, as vezes ia a vila para comprar os suprimentos do mês, tomava seu vinho e retornava a seu lar. longe desta gente malvada, corrupta, hipócrita e sem coração. 
    Desde todo o horror que presenciou ,tornou-se senhor de si próprio.Os mosquitos não incomodam, os grilos com seu barulinho fazem companhia a este homem solitário, ouvia-se a grama crescendo de tão calmo. Logo a noite viria e o homem sairia mais uma vez para a caçada acompanhado apenas de sua lamparina que de longe lançava o odor do querosene.Mais uma golada no seu cantil de vinho e seguia, amores pobre coitado nunca mais teve, teve outras mulheres, mas nada que suprimisse o amor antigo, o primeiro que mesmo platônico era verdadeiro.Nos jogos de carta ele nada via de graça, as mulheres que eram doces, ao fim de uma bebedeira sempre terminaram amargas, pois sempre chamava pelo nome de seu primeiro amor. 
   E assim foi vivendo de forma simples, eis que  a morte veio e abraçou-lhe deu -lhe o merecido beijo de amor. Morrera tranquilo em sua casinha, morrera dormindo enquanto sonhava mais uma vez com sua eterna concubina. Queria ele que seus ossos fossem enterrados junto aos dela, mas coitada, com as chamas nada sobrou, o homem morrera só, embora a vida tivesse aproveitado.Mas nunca fora completa por causa deste amor que lhe faltou.
As músicas que ecoam hoje são apenas vestígios desta saudade, o vento se encarrega de levar estes dizeres através dos arbustos altos dos jardins  do castelo. Onde os reis do clero, usufruem dos amores impuros, com suas devassas freiras e seus padres libertinos. 
As flores que iriam florescer na primavera, morreram junto com os anjos de gelo que o velho fizera, apenas restou os fragmentos de sua memória.


Conto Por: A. Rodrigues

Um comentário:

  1. Cara, dá pra ler tudo neste novo formato de teu blog, ótimo, poxa, este conto foi um tanto melancólico, e eu adoro estas coisas, e sobre os sonhos, as vezes a gente se perde mesmo, fiquei pensando no conto após este final meio saudosista. Abraços, ainda bem que deixei pra ler com calma agora, não é um texto pra ser lido correndo. Parabéns.

    ResponderExcluir